Vexame internacional

No plano internacional o Brasil insiste em permanecer irrelevante. É o sexto entre os maiores países do mundo em extensão e ocupa a quinta posição pelo número de habitantes. Apesar, porém, da área geográfica, do tamanho da população, da capacidade do agronegócio e da riqueza do subsolo, continua pobre e subdesenvolvido. Integra o clube do terceiro mundo.
Sonhamos com a possibilidade de nos tornarmos ricos. Invejamos o desenvolvimento da América, China, Alemanha, Coréia do Sul, Reino Unido, o padrão de vida da Noruega, Suíça, Finlândia, Suécia, Canadá, Japão. Não passamos, contudo, de uma grande Argentina, cujos sonhos de prosperidade foram torpedeados pelo culto ao peronismo.
A Organização das Nações Unidas (ONU) começou a ser projetada pelo presidente dos Estados Unidos, Franklin Delano Roosevelt, no final da segunda guerra mundial (1939-1945). Substituiria a malograda Liga das Nações fundada pelos países vencedores da primeira grande guerra (1914-1918).
O objetivo seria evitar a eclosão da terceira grande guerra mediante a criação de assembleia mundial instalada em território neutro, onde as questões de segurança seriam discutidas e resolvidas pelas vias diplomáticas, sem recurso à luta armada. O principal órgão da ONU é o Conselho de Segurança, composto por 15 países membros, dos quais 5 em caráter permanente e 10 eleitos com mandato de 2 anos. São membros permanentes, com direito de veto, os Estados Unidos, Reino Unido, França, Índia e Rússia, sucessora a União Soviética.
O Conselho de Segurança decide sobre a paz e a guerra, a intervenção e a não intervenção em conflitos externos e internos. As decisões que adota obrigam os demais. São agências da ONU a Organização Mundial da Saúde (OMS), o Programa Alimentar Mundial (PAM), o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), a Organização Internacional do Trabalho (OIT).
O Brasil desempenhou papel de destaque entre os 53 países fundadores da ONU. Esteve representado pelo político e embaixador Oswaldo Euclides de Sousa Aranha, ou apenas Oswaldo Aranha (1894-1960). O elegante, culto, experiente e hábil diplomata sul-rio-grandense chefiou a delegação brasileira à I Sessão Especial realizada em abril de 1947, quando recebeu a honrosa incumbência de proferir o discurso de abertura.
Hoje a nossa presença na ONU perdeu importância. A participação nos debates sobre problemas mundiais é nenhuma. No governo Bolsonaro a arte da diplomacia está esquecida. As Forças Armadas existem para uso interno e pacífico. Na melhor das hipóteses, integrarão missões de paz em países pobres vítimas de violência interna ou dilacerados por disputas tribais. Lula e Dilma despertavam curiosidade por fugirem aos padrões normais. Desejavam vê-los. Jair Bolsonaro nem curiosidade atrai. O discurso de 12 minutos proferido no dia 21 foi ignorado. Endereçado aos idólatras do cercadinho, subestimou a qualidade do auditório e perdeu a ocasião para melhorar a imagem do País diante da opinião pública internacional.
Estamos próximos dos 600 mil mortos pela covid. A economia permanece travada. A inflação se aproxima de 10%. O Real é moeda desvalorizada. Os preços da carne, do arroz, do óleo comestível, do gás de cozinha, da gasolina, do diesel, da energia elétrica, sobem de forma descontrolada. Salários e vencimentos, porém, se encontram congelados. O governo legisla para arrecadar. São mais de 15 milhões de desempregados, 6 milhões de desalentados, uma quarta parte da população passa fome. A CPI da pandemia no Senado constata graves casos de corrupção na área da saúde, com o envolvimento direto de servidores públicos de alto escalão, lobistas e empresários. Tornou-se usual a prática da “rachadinha”. O pantanal e o cerrado são queimados. A Amazônia continua sendo devastada. Ouro, pedras preciosas, madeira nobre, são contrabandeados a preços vis para o exterior.
O presidente Jair Bolsonaro, todavia, insiste na postura negacionista. Recusa-se a usar máscara e a ser vacinado. A perda de confiança do povo em S. Exa. é inegável. Podemos senti-la no ar, entre amigos e conhecidos. Aparentemente abandonou a ideia do golpe de estado. Não se sabe, contudo, até quando.
As eleições se aproximam. O cenário é favorável para político ou política jovem, inteligente, com ideias modernas, capaz de articular alianças em defesa do futuro.
São 34 anos de crise.
O Brasil e o povo não suportarão mais 4 anos de obscurantismo, obtusidade e abandono. Basta de ignorância e atraso.