O homem que queria ser santo

Se me elogiarem, corrija o exagero. Se me criticarem demais, defenda-me.
Se me quiserem fazer um santo só porque morri, mostre que eu tinha um pouco de santo, mas estava longe de ser o santo que me pintavam.

Autor não identificado

Chegando agora em 02 de abril aos setenta anos, eu me pego recordando de muitos homens de bem que passaram por Capivari, homens cheios de entusiasmo e desejo de ajudar a cidade. Eu conheci bem um deles.
O nome dele, escolhido pelos pais de origem italiana, é “deus menino” mais “anjo”: Dionino Ângelo Colaneri.
É claro que conhecemos outros homens de ideal em nossa cidade, seja no campo religioso, como os padres Teodulo Tabak, fundador da Associação de Serviço e Assistência Social – ASAS Capivari; o padre Eusébio Van Den Aardweg, construtor do Ginásio Padre Eusébio, centro esportivo e cultural; ou alguns administradores do município, como Geraldo Toledo do Amaral, Luiz Quagliato Filho, Arlindo Batagin, entre tantos idealistas.
Aprendi com o sábio Buda que “é melhor errar mil vezes chamando um vilão de santo que uma vez chamando um santo de vilão”.
Conheci Dionino em 1975 quando fui transferido para a agência do Banespa em Indaiatuba e viajava todos os dias para Capivari. Ele foi meu iniciador no Espiritismo, quando deixei de frequentar a Igreja Católica, a qual respeito muito.
Ele me contava sua experiência de vida. Não foi filho de usineiro nem dono de usina ou empresário. Jovem, participou na Juventude Católica e frequentou o Seminário Católico, por dois períodos letivos.
Começou sua vida profissional como barbeiro, depois ingressou no Serviço Público Estadual, tendo trabalhado, até sua aposentadoria, no Centro de Saúde de Capivari. De sua convivência com o médico chefe do Centro de Saúde, o Dr. Mário Dias de Aguiar, também Presidente da Santa Casa de Misericórdia de Capivari e da anexa Maternidade Carmela Dutra, surgiu o convite para administrar as duas instituições de Saúde, por quase duas décadas.
Um dos fundadores do Centro Espírita João Moreira, homenagem a um modesto chacareiro médium que ajudava atendendo pessoas, Dionino dizia que era comum no Centro Espírita a presença do querido médico, Dr. Mário, que atendia espiritualmente as pessoas. Dionino dizia que ele tinha o costume de assobiar, identificando sua presença.
Em visita ao médium Chico Xavier, manifestou Dionino o desejo de fundar um abrigo para menores. E o médium, incentivando-o, lhe disse: “A missão é grande, é como colocar o coração na brasa”, pela responsabilidade. Dessa semente vieram outros frutos como o Esporte Clube Lar de Jesus, que revelou dois atletas profissionais, Zetti, goleiro, e Amaral, volante. Instalou fábrica de calçados, gráfica, Jornal da Cidade, Albergue Madre Valéria.
Homem honesto, passou pela maçonaria, foi jornalista, e desencarnou na simplicidade, fundando um novo Centro Espírita para acolher pessoas e espíritos em sua própria residência. De Capivari, recebeu o título outorgado pela Câmara Municipal de Cidadão Benemérito.
E eu pergunto a mim mesmo, será que ele queria ser santo, fazendo tanto bem sem nada possuir?