Jango, desde moço, sempre foi o maioral. Agora, com mulher e filha pra casar, aquietara um pouco.
Na madrugada, véspera do casamento, Jango saiu rumo à cidade para buscar o vestido branco de noiva da filha.
Passa o dia, passa a noite e nada. Noutro dia que era o do casamento, nada de Jango.
A casa estava alvoroçada com tantos convidados: padrinhos, moçada, vizinhos, autoridades… a dança seria por três dias. A pinga corria à vontade nos copinhos… Roncava a sanfona, viola lá fora e uma caixa de música na sala. A mesa estava posta cheia de pratos enfeitados esperando a comilança.
Vez ou outra um dos filhos ia espiar para ver se o pai aparecia na volta da estrada.
O noivo chega pronto todo nos trinques, só a noiva que não. Ainda espera o pai com o vestido, sapatos, véu e o buquê de flores.
O tempo passava… as moças riam, as senhoras cochichavam. A noiva de vestido de chita, ria e chorava, alguém grita: “Lá vem o Jango com mais gente.”
Foi uma alegria geral. Acenderam as luzes e a comitiva parou no terreiro e do cavalo desceram um corpo. Silêncio… a festa estava acabada e a tristeza começada.
O corpo foi levado para a mesa da sala. Um deles explicou que foram tocaiados, que Jango avançou com um pacote amarrado ao corpo e que os ordinários crivaram Jango de balas.
A dona da casa desamarrou o pacote do corpo e o abriu.
Era o vestido branco da filha, o véu, os sapatos e as flores, tudo numa plasmada de sangue… Então rompeu o choro na casa toda.
