A Faixa de Gaza II

Para começar a entender as razões do conflito entre judeus e o Hamas devemos retroceder ao Velho Testamento, ao Êxodo do Egito, à campanha do Exército inglês na Arábia na primeira Guerra Mundial (1914-1918), às consequências do Acordo Sykes-Picot, negociado secretamente em 1916 pela Inglaterra com a França.
O Velho Testamento descreve o assalto a Jericó, cujas poderosas muralhas foram derrubadas pelos israelitas no sétimo dia de cerco, ao som de sete trombetas tocadas por sete sacerdotes comandados por Josué, sucessor de Moisés.
Relata o Livro de Josué que “Tudo quanto na cidade havia destruíram a fio de espada, tanto homens como mulheres, tanto meninos como velhos, também bois, ovelhas e jumentos”.
Foram poupados a prostituta Raabe e sua família, por esconderem os espiões enviados por Josué. (Josué, 6, 21).
Com o rei Salomão, filho de Davi, Israel atingiu o apogeu. Depois da sua morte foi dividido em dois reinos, Judá e Israel, e experimentou longo e penoso processo de decadência.
A primeira Diáspora – palavra que significa dispersão de um povo por perseguição política, religiosa ou étnica – ocorreu após a queda de Jerusalém em 586 a.C, quando Nabucodonosor expulsou o povo judeu para a Babilônia.
A segunda em 70 d.C, após a destruição do novo Templo e a derrota para os romanos.
Simon Schama, historiador inglês, no livro A história dos judeus – À procura das palavras 1000 a.C – 1492 d.C,, “detalha a história da experiência judaica, das suas origens como à descoberta do Novo Mundo, em 1492”
Ao longo dos séculos, por serem judeus, foram alvos de violentas perseguições.
Nada iguala em brutalidade os massacres nos campos alemães de extermínio, durante a segunda Guerra Mundial (1939-1945), quando milhares foram executados por ordem de Hitler, com o objetivo de extirpá-los da face da terra.
Israel foi reconhecido como Estado soberano pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 14 de maio de 1948, quando assumiu o domínio de área com 20.700 km2 – aproximadamente o Estado de Sergipe – correspondente a 75% do território até então habitado pelos palestinos (Uma História dos Povos Árabes, Albert Hourani, Companhia das Letras, SP, 1994,págs.292/321/362/364//413/413).
Árabes e palestinos se recusaram a aceitar a decisão da ONU.
Violentos conflitos foram travados, impondo-se a superioridade em homens e armas de Israel, facilitada pela milenar divisão dos árabes em tribos, incapazes de celebrarem alianças, salvo para breves expedições guerreiras.
Conforme concluiu T.E. Lawrence, após longa convivência no deserto que “…aqueles árabes eram bons apenas para a defesa (…).
Mas eram independentes demais para suportarem um comando rigoroso ou para lutarem em equipe. Um homem que podia lutar muito bem sozinho dava geralmente um péssimo soldado”. (Os Sete Pilares da Sabedoria, Ed. Recorde, SP, s/d, pág. 93).
Localizada no Oriente Médio, na costa oriental do Mediterrâneo, a Faixa de Gaza faz fronteira com Israel e com o Egito.
Tem 51 km de comprimento e entre 6 e 12 km de largura. A área total é de 365 km quadrados, equivalente a pequeno município paulista.
A divisas foram estabelecidas em 1949 pelo Acordo de Armistício entre Israel e Egito. Voltou a ser ocupada pelos judeus, após a Guerra dos Seis Dias e devolvida à Autoridade Palestina pelos Acordos de Oslo, firmados em 1993.
Dentro da minúscula área sobrevivem quase dois milhões de seres humanos. Duas organizações disputam o poder: a Autoridade Nacional Palestina e o Hamas, sem possibilidade de entendimento entre elas.
O conflito Israel e palestinos não será resolvido pelas vias diplomáticas. Com raízes milenares, envolve povos dispostos a se sujeitarem a todos os sacrifícios para fazerem prevalecer os credos religiosos e a posse de terras herdadas dos antepassados.
A disputa vai além de questões de espaço. Da mesma maneira que o Hamas deseja exterminar os judeus, Israel procura eliminar os palestinos.
Estrangeiro em território palestino tomado por Israel, o Hamas não dispõe de armas para derrotar o Exército israelenses. De outra parte, a ONU exige de Israel, como Estado Democrático, o respeito às leis da guerra, que impõem a preservação da população civil.
Marx e Engels afirmaram, em O 18 Brumário de Luís Bonaprte, que “Os homens fazem sua própria história, mas não a fazem como querem; não a fazem sob circunstâncias de sua escolha e sim sob aquelas com que se defrontam diretamente, legadas e transmitidas pelo passado.
A tradição de todas as gerações mortas oprime como um pesadelo o cérebro dos vivos” (Ed. Vitória, RJ, 1956, pág. 17).
Judaísmo e islamismo são inconciliáveis. Conflitos de raízes religiosas, resistem a todas as tentativas de paz. Existem judeus e palestinos sensatos e prudentes, mas não se encontram no controle da situação.
O ocidente deve entender que, para o adepto do islamismo (SHARI’A), palavra que expressa submissão completa a Allah, o Misericordioso, o martírio e a morte são aceitos como desejos de Deus.
O peso das gerações mortas determina o destino de judeus e palestinos vivos.