Repirador Bucal

Alguns anos atrás recebi Mariazinha em meu consultório para uma consulta odontológica.
Minha primeira impressão foi a de uma criança tímida, quieta e com um ar tristonho. Indaguei a mãe sobre o dia-a-dia dela, e a resposta me surpreendeu.
– Mariazinha é muito preguiçosa, não presta atenção na aula, a professora diz que ela vive no “mundo da lua”, tem dificuldade em aprender, vai mal nas provas, praticamente dorme na aula e só quer saber de comer alimentos moles.
Aquilo me espantou, porém enquanto a mãe dava detalhes sobre a filha, continuei o meu exame clínico e percebi algumas alterações: lábios entreabertos, olheiras profundas, palato (“céu da boca”) profundo, mordida cruzada posterior e dentes anteriores bastante projetados. Notei também o pouco desenvolvimento físico da criança, principalmente a caixa torácica.
Para complementar meu exame clínico, solicitei alguns exames de imagens: Radiografia Panorâmica e Telerradiografia Lateral (radiografia lateral do crânio), recomendei que a mãe os providenciasse o mais rápido possível.
Alguns dias depois, Mariazinha retornou ao consultório com os exames que solicitei e, com eles em mãos, minhas suspeitas se confirmaram: Mariazinha não era “preguiçosa ou vivia no mundo da lua” por opção. Ela simplesmente não conseguia respirar !!
A menina apresentava uma adenoide, e para ajudar, amídalas extremamente volumosas, obstruindo praticamente toda as suas vias aéreas superiores. Por este motivo, a menina tinha dificuldades para dormir, pois ao deitar-se, o pouco de passagem aérea restante ficava praticamente toda obstruída. Assim, dormindo mal, ela não conseguia se concentrar nas aulas, o que a levava a ter dificuldade de aprendizado. Nas refeições os problemas continuavam, como respirar e mastigar ao mesmo tempo com as vias aéreas superiores obstruídas?
Sabemos que a respiração bucal provoca enormes transtornos físicos e emocionais nas crianças, como alterações dentárias e esqueletais, devido à falta de estímulo para crescimento e desenvolvimento ósseo, além do comprometimento intelectual da criança.
Sabemos também que não é da competência do Cirurgião – Dentista fazer intervenções nestas regiões, mas é de suma importância sabermos identificar este tipo de problema e encaminharmos para um profissional competente, no caso um médico otorrinolaringologista, para tratamento adequado.
Hoje, após a intervenção cirúrgica para a remoção das obstruções das vias aéreas e complementações com aparelhos ortopédicos (aparelhos móveis) e ortodônticos (aparelhos fixos), Mariazinha parece outra pessoa, se tornando uma criança alegre, comunicativa e recuperou sua saúde física e intelectual.
Fico feliz em saber que a Odontologia foi fundamental na vida da Mariazinha, e bastante satisfeito com a colaboração da mãe durante o tratamento, pois devido à pouca idade da menina, o auxílio materno foi fundamental.


Dr. Moacir Forti Junior
CD – MS
CRO 36015