QUARESMA: a caminho da Páscoa Quarenta dias para “refazer” um caminho…..

Não podemos entender a Quaresma se não pensamos na Páscoa. Fazemos um caminho para alcançar uma meta. Sem objetivo o nosso caminhar fica cansativo e é arriscado parar no meio, ou procurar atalhos e desvios mais atrativos.
O acontecimento da Páscoa é o centro da fé cristã. Doutrinas e normas somente se entendem a partir da novidade da Páscoa de Jesus.
Quaresma é o tempo litúrgico de conversão, que a Igreja marca para nos preparar para a grande festa da Páscoa.
É tempo para nos arrepender dos nossos pecados e de mudar algo de nós para sermos pessoas melhores e vivermos mais próximos de Cristo.
Na Quaresma, Cristo nos convida a mudar de vida. Convida-nos a viver uma série de atitudes cristãs que nos ajudam a parecer mais com Jesus Cristo, nosso Salvador, já que por ação do pecado, nos afastamos mais de Deus.
Por isso, a Quaresma é o tempo do perdão e da reconciliação fraterna. Cada dia, durante a vida, devemos retirar de nossos corações o ódio, o rancor, a inveja, os zelos que se opõem a nosso amor a Deus e as irmãs e irmãos.
Na Quaresma, aprendemos a conhecer e apreciar a Cruz de Jesus. Com isto aprendemos também a tomar nossa cruz com alegria para alcançar a glória da ressurreição.
A Igreja nos convida a viver a Quaresma como um CAMINHO a Jesus Cristo, escutando a Palavra de Deus, orando, compartilhando com o próximo e praticando a justiça.
E de modo especial a Igreja nos convida a olhar para a realidade de nosso país através da Campanha da Fraternidade deste ano de 2017 que nos convoca a refletir com o Tema – Fraternidade: Biomas Brasileiros e defesa da vida e o Lema – Cultivar e guardar a criação (Gênesis 2,15). Com o objetivo de: Cuidar da criação de modo especial dos biomas brasileiros, dons de Deus, e promover relações fraternas com a vida e a cultura dos povos à luz do Evangelho.
O texto base da CF nos trás a reflexão que o território brasileiro, com cerca de 8,5 milhões de quilômetros quadrados, possui uma grande variedade de características naturais (solo, relevo, vegetação e fauna), que interagem entre si formando uma composição natural única. Entre as principais características naturais que mais apresentam variação, estão os biomas. Um bioma é um conjunto de tipos de vegetação que abrange grandes áreas contínuas, em escala regional, com flora e fauna similares, definida pelas condições físicas predominantes nas regiões.
Esses aspectos climáticos, geográficos e litológicos (das rochas), por exemplo, fazem com que um bioma seja dotado de uma diversidade biológica.
No Brasil temos 06 biomas: a Mata Atlântica, a Amazônia, o Cerrado, o Pantanal, a Caatinga e o Pampa.
Nesses biomas vivem pessoas, povos, resultantes da imensa miscigenação brasileira. Os biomas brasileiros sofrem interferências negativas desde a chegada dos primeiros colonizadores ao Brasil. Eles extraíram o pau-brasil usando a mão de obra escrava de indígenas e mais tarde dos africanos.
O Brasil tem uma população de mais de 200 milhões de pessoas, sendo mais de 160 milhões vivendo em cidades e isto, gera sérias preocupações. O impacto dessa concentração populacional sobre o meio ambiente produz problemas que põem em risco as riquezas dos biomas brasileiros.
Em bom nos perguntarmos: O que a fraternidade tem a ver com os biomas brasileiros? E o que tem haver com o defender a vida como nos pede o Tema da CF. Fraternidade: Biomas Brasileiros e defesa da vida? Sabemos com clareza que se os biomas estão ameaçados, toda vida esta ameaçada, não somente a vida humana. Que significa na realidade hodierna de mundo estar em defesa da vida? Estar em defesa da vida não apenas do ser humano, defender a vida do planeta que se encontra ameaçado. Cuidar da vida do planeta é o mesmo que cuidar da vida humana.
Em Genesis Deus ao Criar viu que tudo era bom. E criou a Natureza, os animais, os pássaros enfim o cosmo e depois criou o ser humano e o colocou em meio à natureza para cuidar e guardar. Gen. 2,15.
Cuidar e guarda é a missão do ser humano. Cuidar tem também o significado bíblico de preservar. A missão do ser humano é trabalhar e cuidar da natureza como se cuida de um bem preciso, uma perola de incalculável valor. Ele é chamado a ser co-criador com Deus.
Nos dias atuais, diante dos desmatamentos abusivos e das constantes agressões ao meio ambiente, percebemos que muitas pessoas correm atrás do poder e do lucro, esquecendo-se de sua missão do homem e da mulher é de cultivar, preservar e guardar a Terra.
A CF nos convoca a AGIR, Sair em defesa da vida, seja no social, seja no ecológico, nos propõe ser uma Igreja em saída, não ficar apenas no papel, na reflexão.
Romper couraças institucionais é muito mais difícil do que imaginamos. Requer uma espécie de conversão. Quem quer partir “em defesa da Vida” deve largar (em parte!) a agenda paroquial, familiar, mobilizar tempo, e ir para onde a “Vida” corre perigo.
Assim sendo Quaresma é um tempo privilegiado para intensificar o caminho da própria conversão. Este caminho supõe cooperar com a graça, para dar morte ao homem velho que atua em nós. Trata-se de romper e nos afastar de todo aquilo que nos separa do Plano de Deus. O plano de Deus é claro na missão de Jesus: “Eu vim para que todos tenham vida e vida em abundancia” Jo 10,10
Começamos a Quaresma com o sinal das cinzas em nossas cabeças. Apesar de querermos esconder a verdade e nos deixarmos seduzir por muitas conversas e propagandas, estamos todos conscientes da nossa realidade mortal.
As cinzas nos lembram da precariedade da nossa vida. Não somos tão poderosos como pensamos ser e menos ainda imortais. Por mais que brilhe a nossa estrela, não brilhará para sempre. Contudo não é para ficar tristes e nem desesperados. Ao contrário, tomar consciência da nossa transitoriedade nos obriga e estimula a viver bem a vida dando-lhe um sentido profundo que nos faça, inclusive, ser felizes agora e sempre.
No início da Quaresma nos são propostas três “obras” quaresmais: a esmola, o jejum e a oração.
A esmola nos obriga a avaliar os nossos relacionamentos com as outras pessoas. Podemos usar das nossas capacidades e dos nossos recursos materiais e espirituais para construir fraternidade, como também para explorar, enganar, buscar somente o nosso lucro e interesse.
Nesse caso fica claro que a “esmola” deve ser entendida como uma verdadeira generosidade, uma atenção aos irmãos mais empobrecidos e sofredores.
Sem esse olhar carinhoso e sem essa sensibilidade a nossa vida ficará presa em nós mesmos e em nosso egoísmo.
O jejum nos fala a respeito de nós mesmos, da honestidade com a nossa própria pessoa. É renúncia mesmo; é escolha do que consideramos mais importante na nossa vida deixando de lado o que nos prende e condiciona, sufocando a nossa liberdade de fazer o bem.
Para sermos livres precisamos poder escolher, mas não qualquer coisa e de qualquer jeito. Liberdade verdadeira é saber escolher o bem conscientemente e gratuitamente. Se não sabemos dar um basta a certas situações, elas exigirão cada vez mais de nós, e ficaremos cada vez mais “dependentes” delas em lugar de ficarmos mais livres e felizes.
A oração. Ela diz a respeito do nosso relacionamento com Deus. Afinal quem é Ele para mim, para nós? O que representa em minha vida … na nossa vida? Se tivermos medo dele, cumpriremos obrigações e faremos esforços para agradá-lo e conseguir favores. Um Deus “inimigo”, imprevisível e caprichoso, que compete com o homem, não é o Deus de Jesus Cristo.
Ao contrario o Deus que Jesus nos apresenta é o Deus-amor que prefere morrer a matar os seus perseguidores. Um Deus que não se defende, porque se entrega até o fim.
A oração nos pede mais que palavras, mais que louvores cantados ou gritados, nos pede o silêncio da interiorização, o silêncio do quarto – também da Igreja e da liturgia – onde nos colocamos com a nossa pobreza em frente daquele que é o Senhor da vida, daquele que defendeu a vida com sua própria vida, porque, com a sua Páscoa venceu, uma vez por todas, a morte.
A fé, a fraternidade tem algo a ver com o ar que respiramos, com a flora e a fauna, e com as paisagens, as águas e o mar; dar-nos conta, enfim, de que tudo está interligado, que não somos donos, mas parte da natureza, e que “somos todos TERRA”, como afirma o papa Francisco (LS 2).
A Bíblia toda expressa esta reverência. Jesus a manifesta quando fala dos lírios do campo, e Francisco de Assis faz o mesmo quando pede ao irmão Antônio para, mais do que ensinar a doutrina teológica aos frades menores, se preocupe em ensinar o caminho da piedade.
Sem uma mística, o ser humano não muda suas atitudes (LS 216). O amar ao próximo como a si mesmo não foi “inventado” por Jesus, como às vezes é sugerido. Já fazia parte da Antiga Aliança.
Que a justiça, a esperança, a fé e a comunhão com os ecossistemas que regem a vida no planeta encontrem um lugar especial no coração de todos nós neste tempo especial em que a Igreja nos oferece para refletir com a CF 2017.

Rezemos a Oração
Oficial da CF 2017
Deus, nosso Pai e Senhor, nós vos louvamos e bendizemos, por vossa infinita bondade Criastes o universo com sabedoria e o entregastes em nossas frágeis mãos para que dele cuidemos com carinho e amor.
Ajudai-nos a ser responsáveis e zelosos pela Casa Comum Cresça em nosso imenso Brasil o desejo e o empenho de cuidar mais e mais da vida das pessoas e da beleza e riqueza da criação alimentando o sonho do novo céu e da nova terra que prometestes. Amém!
Abraço a todos.


Ir. Vera Lucia Palermo Missionaria Salvatoriana em Guatemala
veraluciapalermo@gmail.com