Eu sempre pensei em viver até os 65 anos de idade, que seria uma coisa muito boa para mim e para minha família. Tinha com minha esposa, Izabel, um projeto de seis filhos, e quando veio o último, eu pensei: “Quando ele fizer 21 anos, eu farei 65, e então posso ir embora” (retornar à vida espiritual).
A partir dos sessenta aprendi a contar, com um amigo, advogado e escritor, que cada novo aniversário seria um ano a menos. E agora que completei 65 anos estou repensando seriamente minha proposta (rs), pois percebo que terei menos tempo do que já vivi. Como já disse certa feita o escritor Mário de Andrade: “Tenho muito mais passado do que futuro”.
Mas me sinto realizado. Fiz algumas loucuras, pequenas, de que me arrependo redondamente, nada de muito grave, mas não as repetiria.
Alegro-me por tudo que fiz ao lado da esposa, e sempre em meus encontros com os pacientes na clínica de recuperação (da dependência química) eu afirmo que a vida é imortal e o amor é duradouro: “Alegre-se… A vida continua depois da morte. E os casamentos também, no Além”.
E digo que sou muito mais feliz e completo no relacionamento com minha esposa, agora com 42 anos de consórcio, do que quando nos primeiros anos de casado. E, lógico, espero que ela também se sinta assim, feliz, porque eu me esforço por fazê-la, do fundo do coração.
Mas com 65 anos, também me arrisco a anotar algumas lições de vida que fui aprendendo:
1. A vida devolve tudo aquilo que damos para ela.
2. Somos o arquiteto da nossa vida, zelemos pela construção do nosso futuro.
3. O saber não ocupa espaço, procuremos nos aperfeiçoar sempre.
4. Se desejamos que ninguém saiba, não façamos. Nada fica oculto na vida e perante as leis divinas.
5. Aprendamos a fazer o desligamento material e emocional, praticando a caridade e o amor.
6. Acreditar em Deus, desenvolver a fé e amar o próximo é a trindade da nossa maior riqueza – a consciência tranquila.
7. Confie em Deus e nas pessoas, elas estão aprendendo como você.
8. Aceite com resignação as circunstâncias, porque tudo passa, e assim não vai adoecer.
9. Sempre escolha a vida, decida pela sua felicidade, nunca deixe nas mãos dos outros a escolha.
E por fim pense nisto:
10. O passado é irrecuperável, entretanto, reparável no presente. Faça diferente agora, levante-se e mova-se.
É claro que chegará um dia (espero que demore a chegar), que estarei cansado e sem forças para levantar da cama. Hoje já sinto muita vontade de ficar na cama mais um pouco (na verdade já fico, estou aposentado e dou-me esse direito de levantar às nove ou dez horas da manhã).
E quando eu acordo, me espreguiço e me lembro do ensinamento de Jesus no sermão da montanha: “Olhai para os lírios do campo, como eles crescem; não trabalham nem fiam; e eu vos digo que nem mesmo Salomão, em toda a sua glória, se vestiu como qualquer deles. Pois, se Deus assim veste a erva do campo, que hoje existe, e amanhã é lançada no forno, não vos vestirá muito mais a vós, homens de pouca fé?” (1)
E então me levanto, porque o dia de depender dos outros ainda não chegou… e hoje levantei e comecei a escrever este texto.
Arnaldo Divo Rodrigues de Camargo
é editor da Editora EME e especialista em dependência química,
trabalhando como terapeuta voluntário na clínica CROAD
