O suicídio do pai do delegado

Sucederá nos últimos dias, diz Deus, que derramarei do meu Espírito sobre toda carne. Vossos filhos e vossas filhas profetizarão, vossos jovens terão visões e vossos velhos sonharão.
Atos dos Apóstolos 2:16-17

Interessante que nessa passagem acima, do Novo Testamento, que é profético e catastrófico, os discípulos, assim como João Batista, também acreditavam que logo, logo, ocorreria o fim do mundo.
Na verdade, ele é uma replicação do texto do profeta Joel 2:28, que não fala em fim de tempos: “E há de ser que, depois, derramarei o meu Espírito sobre toda a carne, e vossos filhos e vossas filhas profetizarão, os vossos velhos terão sonhos, os vossos jovens terão visões“.
Em essência, o texto do profeta nos leva a entender que Deus, com o amadurecimento das pessoas, iria fazer uma nova concessão de visão espiritual, tanto aos jovens, com visão de futuro e de progresso, quanto aos idosos, com sonhos esclarecedores e reveladores.
O doutor R. A. Ranieri conta que seu pai era um homem excepcionalmente inteligente, forte, corajoso e destemido.
Boa cultura geral, comerciante ativo e próspero, habituado a atuar em todas as esferas sociais, desde as mais elevadas até as mais humildes.
“Uma noite, depois de ler algum jornal, as crianças foram recolhidas à cama, tudo calmo, casa silenciosa, meu pai disse a minha mãe – Beatriz –, apague um pouco essa luz, vou pensar.
Permanecendo com uma antessala, ao lado, com luz, minha mãe foi se deitar.
“O drama daquela noite.
“Algum tempo depois, meditava meu pai, ainda tudo silêncio, quando de repente minha mãe ouviu um grito horroroso, terrível, angustiado, chamando por ela. Era meu pai que gesticulava e gritava.
“– O que é Antônio? O que foi? O que está acontecendo?
“– Não vê, Beatriz? Olha! Olha! Olha ele aí!
“– Ele quem? Você está doido! Não vejo nada.
“– Não vê? Ele está aí! Ele, meu pai morto. E me olha! Você não vê? Olha ele perto da mesa em pé.
“Referia-se meu pai ao meu avô falecido alguns anos antes. E meu pai afirmava para ela que seu pai olhava para ele, que era a alma de meu avô que voltava.
E minha mãe então recomendou – converse com ele! Pergunte o que ele quer. Quem sabe quer reza ou uma vela?
“– Já vai embora, Beatriz, virou as costas e saindo atravessou a porta de vidro sem abrir, numa espécie de fumaça… concluiu meu pai”.
O fato se repetiu novamente quando ele estava no quarto, a aparição de seu pai sem nada lhe dizer, apenas se identificando com seu estilo de vestir, sua aparência e postura.
“E meu pai confessou, quando interrogado pela minha mãe – por que não conversou com ele, perguntando por que voltou, o que queria? – Não tive coragem. Tive medo, eu que nada temia em minha vida, fiquei com assombro do fantasma de meu pai!” (1)
E o delegado Ranieri conta que dois anos depois da aparição de seu avô, seu pai se suicidou.
Acreditando na vida pós-morte, Ranieri entende que foi um equívoco que o pai cometeu com aquela atitude.
Quando pediu para desligar a luz, que ia pensar, estava planejando o suicídio.
E por misericórdia, Deus permitiu que seu pai lhe aparecesse por duas vezes para provar que a vida continua após a morte.

(1) Forças libertadoras, fenômenos espíritas – R.A. Ranieri – Editora Eco.