Juventude e sociedade

Na cerimônia de boas-vindas no Palácio da Guanabara, na Jornada Mundial da Juventude, o Papa Francisco disse que o motivo principal da sua presença no Brasil transcendia qualquer fronteira.
Falou que veio para a JMJ para encontrar os jovens que vinham de todo o mundo, atraídos pelos braços abertos do Cristo Redentor.
E salientou que esses jovens querem agasalhar-se no seu abraço para, junto de seu Coração, ouvir de novo o seu potente e claro chamado: “Ide e fazei discípulos entre todas as nações”. (discurso proferido no dia 22 de julho de 2013).
O interessante é que o Papa não parou por aí e alertou a todos os jovens e a sociedade a ‘botar fé’, ou seja, colocar o sal que dá gosto na vida de todas as pessoas.
Não podemos ficar de braços cruzados.
O que o Pontífice quis dizer com tudo isso?
Nada mais do que aquilo que já sabemos: precisamos ser discípulos e missionários, sendo testemunhas do amor misericordioso do Cristo que escancara os seus braços e o seu coração, principalmente àqueles que não têm voz ou vez.
Botar fé significa que os jovens, que são a igreja do futuro, precisam dar sentido a um mundo que vem perdendo sua esperança em meio a tanta violência e desigualdade social.
Em consonância a tudo que vivemos na JMJ, a CNBB, na CF 2015, nos ajudou a ir mais além refletindo sobre a relação Igreja e Sociedade e como anda o nosso papel de servidores da messe.
Recuperando o contexto em que Jesus viveu, o texto base nos levava a perceber que a autoridade e respeito a Jesus vinham do serviço que ele tinha a todos de forma indiscriminada.
O Filho de Deus se tornou parte do mundo em que vivia, não foi omisso ou se esquivou de qualquer dificuldade ou problema social, se compadeceu com homens, mulheres, crianças, pecadores, letrados, prostitutas, enfermos, tornando-se assim o homem de Nazaré. Tornou-se próximo e humano em tudo menos no pecado.
Vivemos uma época de mudanças aceleradas, de incertezas, da nanotecnologia, das novas descobertas espaciais, do ter que sobressai ao ser, do individualismo, da competitividade, dos reality shows como formas de lazer, da falta de consciência ecológica em função do consumismo exacerbado e uma crise generalizada que transpassa a família, as políticas públicas, a bioética, o mercado e a tecnologia, resumindo: a sociedade de forma total se encontra numa encruzilhada.
A pergunta está posta: o que fazer diante de tão grande obstáculo?
Ficar de braço cruzado esperando que apareça alguém para nos salvar ou assumir a cruz nossa de cada dia com coragem e confiança porque quem nos conduz é Emanuel e caminha conosco? Como cantou padre Zezinho: a decisão é sua porque muitos são os convidados, mas quase ninguém tem tempo.
Devemos hoje, como cristãos, fazer uma mudança difícil se quisermos colher frutos e sermos protagonistas de um mundo em mutação.
A exemplo de Jesus, diante da samaritana e de tantos gritos sofridos e corações machucados, nossa prática deve seguir o itinerário que dialoga: aproximar-se; ouvir; sensibilizar-se; acolher a dor alheia; exortar; comprometer-se; propor mudança; e amar apesar das diferenças e possíveis erros.
Dar esperanças e possibilidade de vida plena.
Os jovens são convidados a ser os protagonistas de uma Igreja misericordiosa e acolhedora que não vê obstáculos para semear a esperança na sociedade a qual estão inseridos e propor os valores evangélicos e de vida digna para todos.
“Levemos as nossas alegrias, os nossos sofrimentos, os nossos fracassos para a Cruz de Cristo; encontraremos ali um Coração aberto que nos compreenda, perdoa, ama e pede para levar este mesmo amor para a nossa vida, para nossos lares, para a sociedade e para o mundo, para amar cada irmão e irmã com este mesmo amor.
Que Deus nos ajude e nos dê força, coragem e perseverança. Amém!” (Via sacra da JMJ, 26 de julho de 2013).


Padre Carlos José Coltri