Cruel, torpe, estúpido, inútil

A execução da vereadora Marielle Franco e o assassinato do motorista Anderson Pedro Gomes cobrem de indignação e vergonha os brasileiros, e revelam o grau de decomposição do Rio de Janeiro.
Já se sabia que o crime organizado, matadores e milicianos, estavam à procura de cadáver para transmitir, às Forças Armadas e ao governo do Estado, mensagem de que não perderam a ousadia e o domínio da situação.
Foram consegui-lo na pessoa da militante dos direitos humanos Marielle, a quem não faltava coragem para travar combate em nome da moralização dos costumes públicos.
De origem modesta, alcançou posições que parecem longe do alcance dos pobres.
Alfabetizou-se, prosseguiu nos estudos, e deu asas ao espírito ao ingressar na política e se alçar ao cargo de integrante da Câmara Municipal, com expressiva votação.
Combater o crime, sobretudo na antiga capital da República, não é missão destinada a fracos.
Assim o provam centenas de policiais militares e civis abatidos em serviço ou nas horas de folga.
A violência que lavra no Rio desconhece limites.
Mulheres, homens e crianças são assassinados rotineiramente, por balas com ou sem endereço definido.
Tolerada por sucessivos governos adquiriu musculatura e dinheiro, que lhe permitem infiltrar-se entre moradores de favelas, onde se confunde com trabalhadores honestos.
A intervenção federal está em xeque. Não pode, entretanto, fazer o jogo dos provocadores. Conforme prescreve o artigo 144, § 5º, da Constituição, compete à Polícia Civil a identificação dos mandantes e executores do crime, conforme o artigo 144, § 5º, da Constituição, ao Ministério Público denunciá-los, e ao Poder Judiciário condená-los com celeridade, para servirem de exemplo.
O povo carioca persiste em errar ao exercer o direito de escolha dos representantes.
É, de certo modo, compreensível que aconteça. Escasseiam-lhe informações e lhe sobram mentiras contadas por corruptos e demagogos.
Acaba por optar pelo menos pior e, como sempre acontece, erra.
A galeria dos péssimos governadores, deputados, prefeitos e vereadores é extensa.
Desde o governo Chagas Freitas, passando por Marcello Alencar, Leonel Brizola duas vezes, Moreira Franco, Benedita da Silva, Garotinho e senhora, Sérgio Cabral, Pezão, a segurança pública no Rio de Janeiro é tratada como problema de menor importância.
Apesar da crescente expansão do tráfico, e do controle das favelas por traficantes e milicianos, perduram a escassez de meios materiais e humanos em ambas as polícias, e sobram casos de violência e corrupção.
Vale registrar que dos sete últimos governadores, cinco enfrentam problemas com a Justiça.
Dentro de alguns dias a execução de Marielle Franco e o assassinato do motorista Anderson Pedro Gomes integrarão o rol dos crimes não solucionados.
Com o tempo desaparecerão em meio a centenas de novos episódios de violência urbana como a morte do menino de um ano e de três adultos, em tiroteio no final da semana no Complexo do Alemão.

Diário do Poder, Brasília, DF, 19.3.2018.