Ele era o coveiro daquele pequeno vilarejo.
Sua profissão era cavar e naquele dia estava abrindo mais uma cova e foi cavando… cavando, distraído…, mas de repente percebeu que cavara demais.
Tentou sair da cova e não conseguiu. Saltava, tentava o apoio da enxada e da pá e nada…
Lembrou que estava só, que o portão do cemitério estava aberto e que ninguém viria naquele horário.
Gritava forte e ninguém atendia.
Cansou-se de tanto gritar. Veio a noite e com ela o frio, o silêncio e a escuridão.
Desesperado, sentou-se no fundo da cova. Só se ouvia o coaxar dos sapos, os grilos e… uns passos.
O coveiro grita esperançoso. Alguém estava por perto.
Os passos se aproximam e a cabeça de um bebum aparece lá em cima.
“-O que é, o que que há?”
O coveiro desesperado: “-Tire-me daqui, por favor. Estou com um frio terrível.”
E o bêbado: “-Mas coitado tem toda razão de estar com frio. Alguém tirou toda a terra de cima de você, meu pobre mortinho.”
E pegando a pá, encheu-a de terra e foi cobrindo o coveiro cuidadosamente.
