Os gigantes da alma. Quais estamos alimentando?

Milhares de velas podem ser acesas com uma única vela, sem que a luz desta vela diminua. A felicidade nunca diminui por ser partilhada.
Buda

Quando era criança, ainda me lembro do medo que tinha dos animais e aves que povoavam a sala e o meu quarto, na hora de dormir. E meu pai me mostrava que não tinha nada, inclusive usando uma vassoura para passar em baixo da cama ou do guarda-louças da sala. Eu via que os animais mudavam de lugar, apenas, e não acreditava em meu pai e meu pai não acreditava em mim.
Diferentemente do menino Chico Xavier, que aos cinco anos passou a conversar com a mãe falecida, e esta lhe recomendava que obedecesse a madrinha, que iria enviar um anjo para cuidar dele (uma nova esposa para o pai), e ele ouvia e acreditava.
Um caso popular interessante conta que um homem, caminhando à noite por uma estrada rural, dirigindo-se para uma vila, ouviu atrás de si uns passos; ele acelerou o seu, e o acompanhante acelerou também. Pensando em algo do outro mundo, ou de alguém que poderia assaltá-lo, começou a correr. E, esbaforido, quando um bico de luz clareou o caminho, deixou o medo e olhou para trás, e viu que era um velho burro acostumado a acompanhar o tratador.
Cresci, deixei a teologia católica de minha mãe e a evangélica de meu pai e aceitei a teologia cristã ensinada pelo espiritismo: somos alma, temporariamente investida de um corpo; nosso reino é o espiritual; estamos de passagem aqui, promovendo a melhoria de nossa vida, que nos é concedida juntamente com o livre-arbítrio, por graça de Deus, que é único. Jesus é nosso guia e modelo.
Essa teologia acrescenta que não existem mortos e que podemos nos comunicar com alguns deles; que temos pluralidade de existências corporais; que as leis divinas estão registradas em nossa consciência; que ninguém foge da lei de causa e efeito e que oportunidades sempre serão múltiplas, inclusive em outros mundos.
Os gigantes da alma são definidos como o medo, a ira, o dever e o amor. No capítulo Sede perfeitos, de “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, comentando sobre o “homem de bem”, Allan Kardec orienta: “Em todas as circunstâncias, a caridade é seu guia. Diz a si mesmo que falta com o dever de amor ao próximo e não merece a clemência do Senhor aquele que causa prejuízo a outrem …”. (1)
Infelizmente, ainda são raros os homens de bem na Terra, mas eles existem.
Paulo, que perseguiu os cristãos e, depois de cair do cavalo, descobriu a excelência da caridade – o amor puro, que excede e supera todas as outras coisas –, cumpriu seu dever de levar a boa-nova a todos os povos.
“A caridade é sofredora, é benigna; a caridade não é invejosa; a caridade não trata com leviandade, não se ensoberbece. Não trata com indecência, não busca os seus interesses, não se irrita, não suspeita mal. Não se alegra com a injustiça, porém se alegra com a verdade. Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta”. (2)
Quais dessas forças gigantes da alma estamos alimentando em nossa vida?

1) Allan Kardec – O Evangelho segundo o Espiritismo – Editora EME.
2) Paulo, I Coríntios – 13.