O que amamos revela quem nós somos

Um dos filmes mais famosos num âmbito religioso que aborda a temática da história da Salvação – ou seja, toda entrega de Jesus pela humanidade – é “A Paixão de Cristo”, de Mel Gibson.
Apesar desta narrativa já ser decorada pela maioria dos fiéis – afinal de contas, a obra é de fato muito boa – existe uma cena extremamente importante que convém ser analisada: a do Cirineu, onde um rapaz ajuda Jesus Cristo a carregar sua pesada cruz.
Porém o trecho em questão é capaz de mostrar um detalhe que muitas vezes passa despercebido: em determinado ponto, após muito carregarem a cruz, Jesus e o Cirineu ficam com as fisionomias parecidas, indicando que a união ali presente os torna semelhantes.
Em meados do século XVI, Luís de Camões, grande poeta e ícone da literatura portuguesa, dissertou em um de seus poemas sobre como as pessoas se tornam parecidas com aquilo que elas amam.
Seus versos, intitulados de “transforma-se o amor na cousa amada” não apenas puderam encantar as pessoas, mas também as alertaram sobre a importância do amor.
Mas afinal de contas, o que Luís de Camões tem a ver com a cena do Cirineu?
E, além disso, qual a relação de ambos com os católicos de hoje em dia?
Partindo de um pressuposto que – no primeiro exemplo – o Cirineu ficou parecido com Jesus após ajudá-lo e de que – como diz Camões – o amante se torna semelhante com aquilo que ama, nota-se aqui a importância do homem saber amar as coisas corretas, afinal de contas, são estas as coisas que moldarão toda sua vida.
No século XVI, Fulton Sheen escreveu no seu livro “três para amar” justamente sobre isso: “Cada pessoa é o que ela ama.
O amor se torna semelhante àquilo que ama. Se ama o Céu, se torna celestial; se ama a carne como um deus, se torna corruptível.
O tipo de imortalidade que temos depende do tipo de amor que temos.
Também no negativo, quem vos diz o que não ama, também diz quem é. “Amor pondus meum”; “O amor é o meu peso”, disse Santo Agostinho.
Essa lenta conversão de um sujeito em um objeto, do amante em amado, do miserável em seu ouro ou do santo em seu Deus, revela a importância de amar as coisas certas.
Quanto mais nobres forem nossos amores, mais nobre será o nosso caráter.
Amar o que é inferior ao humano é degradação; amar o humano pelo humano é mediocridade; amar o humano em prol do Divino é enriquecedor; amar o Divino por Ele mesmo é santidade.”
Como conclusão de tal reflexão – utilizando também dos exemplos já abordados – , geram-se as seguintes perguntas: o que é que o homem tem colocado e trazido para dentro de seu coração?
Quem é que tem tomado o primeiro lugar na vida das pessoas atualmente?
O que cada indivíduo tem consumido e, consequentemente, refletido em seus atos, palavras e ações?
Que, como cristão, possamos fazer tal reflexão afim de – a partir daí – amarmos as coisas corretas, que nos levam a transcendência e não ao prejuízo, afinal de contas, nossos amores revelam a quem nós servimos.

Felipe Pizzinato
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