NOVEMBRO MÊS DAS ALMAS “Eu sou a Ressurreição e a Vida” (João, 11,25)

O último mês do ano litúrgico, isto é, o mês de novembro, é dedicado às reflexões escatológicas. Somos chamados e preparar-nos, sem medo, para o momento derradeiro de nossa vida terrena.
O centro de nossa fé é o Mistério Pascal, o Mistério da Páscoa, Morte e Ressurreição de Jesus. Realmente, a presença da morte, em meio à nossa vida, é um mistério. Como acolhê-la? É possível entendê-la? Que lições é possível tirar dela?
Acho que a primeira lição que a morte nos dá é a humildade. O próprio Filho de Deus submeteu-se à experiência da morte como sua consequência do pecado a fim de tomá-la sobre si e destruí-la em seu amor imortal.
Uma segunda lição que a morte nos deixa é a comunhão. Todos nós nos reconhecemos irmãos diante da morte que não escolhe ninguém.
E por fim, a terceira lição que a morte nos dá é a do amor. Amor não é uma experiência apenas de proximidade; é também uma experiência de separação. O amor verdadeiro sabe deixar partir. Partimos do ventre materno ao nascer, partimos da casa dos pais ao casarmos ou entrarmos para a vida consagrada, sacerdotal e partimos ao sairmos do mundo presente para a vida eterna. É por isso que a morte é um mistério pascal. Somos peregrinos nesta terra
No século XIII, o dia dos fiéis defuntos passou a ser celebrado em 2 de novembro, já que no dia 1 de novembro era comemorada a solenidade de todos os santos.
O Papa Paulo VI, na “Constituição das Indulgências”, de 1967, estabeleceu indulgências parciais e plenárias pelas almas do purgatório, e determinou a semana de 1 a 8 de novembro como a semana das almas, em que podemos lucrar indulgências plenárias a elas mediante uma visita ao cemitério para rezar por elas, tendo se confessado, comungado e rezado pelo Papa (Pai Nosso, Ave Maria, Glória ao Pai). As almas, por elas mesmas não podem conseguir sua purificação; dependem de nossas orações, missas, esmolas, penitências etc., por elas.
A Igreja sempre celebra aquilo que provém de uma tradição, daquilo que é fruto de uma experiência de fé no seio da comunidade cristã. A comemoração de todos os fiéis falecidos evidencia a única Igreja de Cristo como: peregrina, purgativa e triunfante que celebra o mistério pascal. A esperança que deve brotar no coração dos cristãos, os quais são convidados a não parar na morte, mas enxergá-la na perspectiva da ressurreição de Cristo.
O purgatório nos transforma na figura sem mancha, ou seja, no verdadeiro recipiente da eterna alegria. No purgatório a alegria do encontro com Deus que acontecerá, supera a dor e o sofrimento. Só não acredita no purgatório quem duvida da misericórdia de Deus. O verdadeiro significado do dia de finados só pode ser encontrado no amor de Deus.
O livro dos Macabeus, na Bíblia, nos diz: Santo e piedoso costume é o de orar pelos mortos (Mb.12,46). Rezamos, de forma especial, em todo o mês de novembro, pelos nossos entes queridos e por todos os que já passaram desta realidade terrena.
Nossa prece por eles é, na verdade, um hino à vida. Nossa fé nos ensina que não fomos criados para morrer, mas para viver. Afirma Santo Ambrósio, Bispo de Milão no século quarto, que a morte não era da natureza, mas converteu-se em natureza.
No princípio, Deus não fez a morte, mas deu-a como remédio. Pela prevaricação, condenada ao trabalho de cada dia e ao gemido intolerável, a vida dos homens começou a ser miserável. Era preciso dar fim aos males, para que a morte restituísse o que a vida perdera. Assim, o que nos move ao rezar pelos mortos é a certeza de que ressuscitaremos. Somos impulsionados pela plena convicção de que nossos mortos não estão aniquilados, mas estão a caminho de Deus, na santa purificação do purgatório. Certos também somos de que muitos já se encontram na Casa definitiva do Pai, uma vez que Jesus disse a Dimas no alto do Calvário: Hoje mesmo estarás comigo no Paraíso (Lc 23,43). Como Dimas, muitos outros, pela misericórdia divina, se encontram lá e nós os chamamos santos, pois já estão na posse perfeita de Deus, imersos na santidade Dele, único e verdadeiro Santo.
Celebramos a Eucaristia em nossos cemitérios, pois são lugares santos, onde depositamos respeitosamente os corpos de nossos irmãos falecidos, santificados pela água batismal. Os cemitérios são território sagrado, são espaços simbólicos, nos quais elevamos nossas preces em favor dos que já partiram, celebrando a vitória da vida sobre a morte, repetindo o que nos diz a carta aos Coríntios: Onde está a tua vitória, ó morte?! (I Cor. 15, 55). A Eucaristia é fonte de vida, pois proclama a ressurreição de Cristo, enquanto esperamos sua volta. Com viva fé, nas celebrações dos finados, rezamos creio em Jesus Cristo que foi crucificado, morto e sepultado e ressuscitou ao terceiro dia. Também repetimos com toda a Igreja: O Senhor, de novo há de vir, em sua glória, para julgar os vivos e os mortos.
Há, hoje uma cultura da morte estabelecida, onde se pode enxergar absurdos como assassinatos praticamente diários, roubos e furtos a mão armada, violência e falta de segurança, movimentos favoráveis à legalização do aborto, da eutanásia…
A fé católica é totalmente incompatível com a cultura da morte, pois ela se baseia na vida que para nós Cristo conquistou com seu sangue na cruz, ressuscitando ao terceiro dia, conforme as escrituras.
Lembramos também dos homens e mulheres bem-aventurados, pessoas que procuram fazer frutificar seus dons colocando-os a serviço de seu próximo, tentando ser como Jesus, tentando serem disponíveis, dóceis e fiéis à ação santificadora e restauradora do Espírito Santo. Quem sabe, convivemos com muitos santos e santas em nossas famílias e comunidades e não percebemos. No céu teremos muitas surpresas! Se desejamos também sermos pessoas santas, precisamos deixar espaço no coração para deixar Jesus ocupá-lo plenamente. Uma pessoa Santa não é aquela pessoa sem defeito; sabemos que os santos foram pessoas limitadas, pecadoras, com muitas misérias como nós, mas que no seu dia a dia buscaram a Deus sem desviarem e nem se enganarem pelos falsos deuses que o mundo nos propõe tantas vezes.
Todos somos chamados à vocação e santidade. Procuremos nos esforçar para sermos pessoas que se deixam conduzir pelo Espírito Santo, orientados pela palavra de Deus. Caminhar à luz de Deus e deixar-se surpreender e jamais perder a esperança.
A ocasião do mês de novembro seja para nós um canto à liturgia da vida, uma súplica para que o Senhor defenda a Pátria brasileira das forças que cultuam a morte em lugar de defenderem a vida.
Somos obra do Criador. Se passamos pela escuridão da morte, vamos para a claridade infinita da ressurreição, ao abraço definitivo com Deus que nos criou para viver e não para morrer.

Equipe do Crisma