Novelas Intermináveis

Outro dia ouvi o Boechat dizer que no Brasil, no momento atual, as situações perduram como nas séries televisivas que não acabam nunca, pois sempre tem uma continuação.
Tal é o caso do Lula, do Sérgio Cabral e sua corrupta mulher, do Palocci, do Aécio e que agora parece ser a vez do Temer. É um tal de condenação e recursos que são infindáveis, além de morosos. É um tal de prende e solta que o Sérgio Moro deve estar cansado de prender e ver o STF soltar. É um tal de denúncias para aqueles que não tem foro privilegiado que o STF tira da 1ª instância e remete ao órgão máximo da justiça brasileira, que não tem fim. Afinal que justiça é essa, em que as interpretações são de todos os calibres e ensejam múltiplas defesas de acôrdo com o desejo e vontade do juiz de plantão?
Até onde o leigo pode compreender, se é que compreende, é que a justiça é lenta e cega, pois os fatos estão aí e corroboram à nós, simples ignorantes dos ditames da justiça, que contra eles não há argumentos, mas que os doutos insistem em interpretá-los à sua maneira.
Destarte devemos entender que a nossa justiça, se é que existe, somente serve àqueles detentores de poder político e financeiro e que as prisões foram feitas para os pobres e oprimidos pelo Estado, detentor do monopólio da violência.
Agora a PGR apresenta denuncia contra o Temer que, como um pato, deixou-se pegar numa armadilha infantil, pois recebe na garagem de sua casa (que é do povo) um “notório bandido” (palavras do próprio Temer em seu comunicado) que grava toda a conversa e implica o presidente numa engrenagem de mal feitos enorme. Situação mais dantesca é impossível de imaginar!
O presidente do Brasil combinando acertos de recursos ilícitos no Palácio do Jaburu numa madrugada em que o “bandido” Joesley sorrateiramente grava a conversa. Não, isso não é enredo de nenhuma novela, de nenhum filme de espionagem, mas sim um fato verdadeiro que, a meu ver, deixa o presidente sem defesa. E agora Michel? Que fazer?
O STF tem obrigação de enviar a denúncia do Janot à Câmara que deve acatá-la ou rejeitá-la. Se acatar o presidente vira réu e é afastado de suas funções por 180 dias para sua defesa, caso contrário a denuncia é arquivada e o presidente, por ter foro privilegiado, manterá suas funções até o dia em que sairá da presidencia e, aí sim, deverá virar réu e responder por seus crimes. Podemos ter certeza que a Câmara não vai acatar a denuncia do Janot e manterá o Temer como presidente. Mas, e o Brasil?
O que acontecerá ao nosso Brasil conviver com um presidente enfraquecido, com os piores índices de popularidade apresentados até agora? Não acontecerá nada, absolutamente nada, pois já estamos vivendo essa fase de desconstrução do instituto presidencial, do instituto do legislativo e também do judiciário. O povo está bastante cético em relação às nossas instituições e já não acredita nelas há muito tempo.
Devemos continuar com nossas vidas e, por incrível que possa parecer, conviver com essa absoluta novela de realismo fantástico onde cada um faz de conta que cumpre seu papel e ninguém mais se importa com o poder constituído, levando sua vida à parte como se nada pudesse nos alcançar.
E as reformas? Bem, serão elas levadas a cabo e deverão ser implementadas numa conjuntura de enfraquecimento dos poderes? Duvido muito! Nosso presidente deverá cuidar para não ser denunciado e deixará as reformas para outro momento mais propício. Se porém tentar levá-las adiante vai deixar os cofres do Brasil muito mais vazios do que já estão, pois os parlamentares, como hienas, cobrarão muito caro seus apoios. Situação terrível essa que o mandatário maior se encontra, como se diz no jogo de bilhar, numa sinuca de bico, onde não há saída possível. Sua defesa em rede nacional foi patética!
Contra fatos não há argumentos e o Temer está realmente encalacrado e politicamente perdido. Não há saída possível e não ser pegar as malas (espero que não sejam conteineres como o Lula) e voltar para Tietê onde poderá dedicar-se com mais apuro de sua defesa, que a meu ver não há.
Vivemos uma situação inusitada, nunca vivida nos tempos republicanos onde o presidente, em pleno mandato, é denunciado por crime comum.
Ao povo, ora o povo, esse é que se lasque (para não dizer coisas impublicáveis). Boa sorte a todos nós, se é que ela existe.

julho 2017