Desmatamento nas bacias hidrográficas da Mata Atlântica e a crise hídrica

Há anos tem se falado sobre o desmatamento e perda de biodiversidade no bioma Mata Atlântica. Estas questões anti-preservação vem atingindo também as principais bacias hidrográficas que compõem o bioma. Das 47 localizadas em Unidades de Gerenciamento de Recursos Hídricos (UGRHs), 35 tiveram desflorestamentos em suas áreas entre 2019 e 2020 – sendo que dez delas concentram 80% do desmatamento total nas bacias. Os dados são do Atlas da Mata Atlântica, estudo realizado pela Fundação SOS Mata Atlântica em parceria com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, unidade vinculada ao Ministério de Ciência Tecnologia e Inovação (INPE/MCTI).
É necessário que seja realizada a gestão integrada dentro de uma bacia hidrográfica, considerando o solo, as florestas e a água como fatores conjuntos para garantia da segurança hídrica. O Atlas revela que as bacias que concentram o desmatamento no período estão entre as mais importantes do bioma Mata Atlântica. De acordo com o ranking, as bacias dos rios São Francisco, Jequitinhonha, Pardo, Iguaçu, Doce, Paraguai, Paraná, Uruguai, Paranapanema e as Bacias Litorâneas Estaduais da Bahia são as mais afetadas.
As regiões sul e sudeste do país já estão vivendo a pior crise hídrica dos últimos 100 anos e esse cenário pode deixar o país em situação ainda mais crítica no que diz respeito ao abastecimento, à geração de energia e à irrigação para a produção de alimentos. O diretor de Conhecimento da SOS Mata Atlântica, afirma que o relatório divulgado pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) deixa claro que a crise climática se tornará cada vez mais grave, com eventos extremos se tornando frequentes, caso nossa sociedade não tome medidas urgentes.
O desmatamento crescente nas bacias hidrográficas da Mata Atlântica, no entanto, mostra que não estamos dando atenção aos alertas da ciência e da própria natureza. E que apenas cessar o desmatamento, não será suficiente para melhorar a questão, pois é necessário adotar medidas de restauração das florestas para evitar um cenário catastrófico. Lembrou ainda, que a Mata Atlântica concentra 70% da população do Brasil e responde por 80% da economia e, assim, sua restauração geraria benefícios não só para a população e a economia nacionais, mas também para o planeta e a humanidade como um todo.
O desmatamento gera impactos nas nascentes, que ficam desprotegidas, não há recarga de aquíferos e os rios e reservatórios ficam ameaçados por eventos climáticos como secas e cheias. O desmatamento impacta o solo e provoca erosão, o assoreamento nos rios e enchentes.