Causos – A agulha e a linha

Colunistas

Uma agulha, na caixa de costura, resolveu enfrentar um novelo de linha: “Você linha, é toda enrolada, toda cheia de si, achando que vale alguma coisa neste mundo.”
“Deixe-me em paz, cuide da sua vida e deixe a dos outros”, retrucou a linha.
“Linha orgulhosa”, gritou a agulha.
“Sou sim. Sou eu que costuro os vestidos e enfeites da nossa dona”, respondeu a linha.
“Eu que costuro, você não faz nada”, retrucou a agulha.
“Você só fura o pano, eu prendo os pedaços, ajeito os babados”, respondeu a linha.
“Sim, mas eu que furo o pano e puxo você, que vai me obedecendo”, gritou a agulha.
“Seu trabalho é subalterno, só mostra o caminho. Eu que prendo, ligo, ajunto.” Respondeu a linha.
Nisto chega a costureira que pega a caixa de costura e o pano e começa a costurar.
A agulha ia resmungando: “Viu só, eu estou entre os dedos da costureira furando aqui e ali, ela só se importa comigo.”
Como a linha nada dizia, a agulha também se calou.
Quatro dias depois, o vestido ficou pronto. Chegou o dia do baile e o vestido foi para o corpo da jovem baronesa.
A agulha ficou ali esquecida na caixa ouvindo a linha toda feliz:” Quem vai ao baile, quem vai dançar, quem vai gozar a vida”. A agulha nada respondeu.
Um alfinete, que tudo acompanhou, murmurou: “Você abriu caminho para ela e ela que vai desfrutar a vida. Faça como eu, não abro caminho para ninguém. Onde me espetam eu fico.”

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *