CAPIVARI 185 ANOS

Mensagem do vereador Flávio Carvalho representando
a Câmara Municipal em Sessão Solene de aniversário

De São Paulo, um recanto abençoado
Santa Terra hoje pensando em ti…..
Pensando em ti, Terra de Poetas, Músicos, Quilombolas, do Leão da Sorocabana, e de Tarsila do Amaral, ícone maior de uma cidade quem tem com preponderância um clima ameno com inverso seco, fica a 512 metros acima do nível do mar, tem 302 km2 de área física e uma população na casa dos 55.000 habitantes.
Pensando em ti, que teve seu alvará de freguesia em 11/10/1826, passou a ser Vila em 10/07 1832, chamada então de São João Batista do Capivari de Baixo, para diferenciar-se da Capivary de cima, hoje Monte-Mor.
De 1785 a 1820 havia por aqui apenas a “venda do Chico”, sendo que então, pela força da religiosidade surgiu a Capela de São João Batista, de taipa socada, dando novo aspecto a vila que ali se formava. Hoje temos ali a nossa majestosa Igreja Matriz.
Assim, o povoado foi atraindo mais pessoas, e para que não crescesse desordenadamente como Itu e Porto Feliz, a Câmara da Vila de Itu elaborou o Plano de Arruamento de Capivari em 04/07/1821.
Como podemos muito bem observar todo o centro de nossa cidade e arredores tem realmente arruamento correto, o que infelizmente não ocorreu no decorrer da nossa historia, com loteamentos totalmente irregulares, isso comparados aos padrões antigos e, também, para os dias de hoje quando por força de lei não podemos mais permitir invasões de área verde e de preservação ambiental.
Na segunda metade do século XIX o Cemitério Municipal existente já se encontrava quase dentro da cidade (hoje é o Ginásio Padre Fabiano), tendo sido transferido para novo local, as margens da rodovia Capivari/Monte Mor.
O progresso chegava e com ele a estrada de ferro, o que facilitava o transporte de mercadorias e pessoas. Isso aconteceu em 21/10/1875, quando o primeiro trem espalhou fumaça em ares capivarianos. Em 10/07/1918 inaugurou-se o novo prédio da estação, em estilo inglês, a famosa Sorocabana.
Aos poucos, porém, como todo o resto do País, viajando na contra-mão da história, os trilhos foram perdendo espaço para a malha rodoviária e o trecho que atendia Capivari foi desativado na década de 70.
Somos também uma terra de “causos” e lendas como, por exemplo ,a da construção da Capela de Santa Cruz. Conta-se que um escravo em fuga, com pés e mãos acorrentados, perseguido por seus algozes parou junto a uma cruz de madeira que indicava a sepultura de um caminhante ali falecido e implorou misericórdia aos céus. Um milagre inesperado aconteceu. Abriram-se as correntes e o negro desapareceu no mato sem deixar pistas. Tal fato comoveu a população e começou a atrair fiéis, o que motivou a construção da Capela de Santa Cruz.
Em 1886 inaugurava-se o Mercado Municipal, em forma de ferradura (atual Praça Rodrigues de Abreu).
Nossos agricultores ali exerciam também seu trabalho de compra e venda. O Comercio crescia e se diversificava, criou-se um curtume e um matadouro municipal.
Em 1898, Capivari tinha 700 casas e 16 ruas bem alinhadas, e já necessitava de um lugar adequado para cuidar da saúde da população. Em 03/07/1900 inaugurava-se a Santa Casa de Misericórdia de Capivari.
Em 1919 a iluminação elétrica apareceu em nossa cidade através da empresa “San Juan”, assim mesmo de forma muito precária. (trova: “Capivari, cidade que me seduz. De dia falta água, de noite falta luz”). Apenas em 1957, o fornecimento da energia elétrica se normalizou, com a chegada da CPFL.
Na parte cultural tivemos o Cine Teatro Íris, onde a sociedade se reunia para apreciar os filmes de então e as Cias de Teatro que por aqui também se apresentavam.
Encenava-se a comédia “A caipirinha” que retratou os costumes de Capivari daquela época com atores amadores daqui mesmo. Essa peça foi escrita pelo médico Dr. Cesário Motta Júnior, nascido em Porto Feliz, mas que exerceu a profissão cá entre nós, sendo reconhecido não apenas pela medicina, mas pela cidadania que exercia em sua plenitude, preocupado com a higiene e o bem estar da população. Trabalhou em Capivari até tornar-se deputado da Assembléia Constituinte em 1891.
Temos um Amadeu Amaral, poeta, ensaísta, folclorista e filólogo. Membro da Academia Brasileira de Letras num tempo onde se assumia a cadeira apenas por méritos literários. Ocupa a cadeira que foi de Olavo Bilac. Foi o primeiro no Brasil a estudar cientificamente um dialeto regional e sua obra “O Dialeto Caipira” é referencia na cultura do País. Diretor por muitos anos do jornal O Estado de São Paulo, o famoso Estadão.
Temos ainda Rodrigues de Abreu, o poeta da Sala dos Passos Perdidos, que compôs os versos do Hino do Capivariano, o nosso Leão da Sorocabana de tantas glórias, hoje reverenciado como um dos melhores times de futebol do País, orgulho de cada um de nós. Vale lembrar que chegou a atuar como centro avante do nosso Leão. Porém, futebol à parte, nosso poeta, atormentado pelas dores de amor, adoentado e esquecido, legou-nos sua Casa Destelhada e viveu seus últimos dias longe do sol clarinho que tanto amava, dessa ruas e rio que versejou, e morreu tristemente na cidade de Baurú.
E eis que chega Tarsila. Tarsila eterna, eterna Tarsila, cores, multicores. Brasis verdadeiros, da alma do povo, das flores, dos manacás, das cucas, das negras, operários, favelas e abaporús.
Tarsila menina, de todas as posses, cultura e vida. Tarsila mulher, beleza invulgar, pura paixão, artista do mundo. E esse mundo se tornou mais vivo, mais bonito, mais real, mais perto dos humildes pelos pincéis de Tarsila. Nossa Tarsila. Ainda chegará o dia em que nossa gente saberá colher os frutos que Tarsila plantou em nossa alma.
Poderia dizer muito ainda dessa Capivari multifacetada e heterogênea, mas paro por aqui, apenas lembrando que comemoramos 185 anos de uma terra muito especial para cada um de nós, nascidos aqui ou não. Especial por ser a mão que nos sustenta, por ser a mãe que nos acolhe. Como todas as outras, tem seus problemas, suas agruras, mas hoje é dia de paz, e precisamos todos reverenciá-la com paz, amor e muita ternura.


Flávio Carvalho
Capivari,07 de Julho de 2017