A lista sombria da corrupção

Provoca náuseas a relação dos 415 políticos de 26 partidos citados por executivos e ex-executivos da Odebrechet.
Entre eles temos oito ministros de Estado, três governadores, 24 senadores, 39 deputados federais, um ministro do Tribunal de Contas da União, um deputado estadual, dois prefeitos, 20 sem foro privilegiado.
O povo iludido e desinformado ignorava o que se passava em Brasília, enquanto R$ 1,6 bilhão era surrupiado dos cofres públicos em asquerosa suruba política que, graças às investigações da Lava-Jato vem à tona para enojar o Brasil e causar espanto ao mundo.
Corrupção e propina sempre existiram. Jamais, porém, nas alturas a que chegaram durante os anos de governo petista, quando todos os limites impossíveis e inimagináveis foram superados por membros do Executivo e Legislativo, em conluio com o submundo empresarial. Medidas provisórias permitidas em caso de relevância e urgência da matéria, passaram a ser negociadas com empreiteiras, mesmo após a deflagração da operação Lava-Jato.
A cada dia, nova delação envolve pessoas tidas como acima de qualquer suspeita. Corrupção é como câncer da próstata. Surge e se desenvolve de maneira silenciosa.
Não sendo diagnosticado e extirpado, provocará a proliferação dos tumores malignos que levarão o organismo à metástase e à morte.
Por enquanto o que temos são delações com 337 pedidos de investigações, inquéritos e denúncias criminais em andamento.
Aos acusados, a Constituição, o Código de Processo Penal e bons advogados garantem amplo direito de defesa. Assim funciona o Estado de direto democrático.
Quem for alvo de denuncia terá a oportunidade de se defender com as medidas previstas em lei.
O foro privilegiado não deve ser encarado, entretanto, como rota de fuga quando se impuser condenação.
A maior crise pela qual passa o País é a ética, produto da perversão dos costumes, de ganância desenfreada, da certeza da impunidade. Escreveu Norberto Bobbio, a propósito da Constituição italiana, que completava 30 anos de idade: “A Constituição não é culpada”. Aqui também não.
A culpa cabe à debilidade dos órgãos de fiscalização, cuja incapacidade de pressentir a corrupção e investigá-la é conhecida, e à leniência do Judiciário, incapaz de reagir com dureza e celeridade.
O fato de as delações apontarem para 415 políticos de 26 partidos não significa que todos agiram dolosamente. Imaginemos que a metade seja absolvida ou receba os benefícios da prescrição. Ainda restarão cerca de 200 punidos por crime de corrupção ativa ou passiva, número supinamente elevado diante das posições dos acusados.
A nação está traumatizada. Ignorada pela Praça dos Três Poderes, não poderia imaginar que a podridão houvesse ganho tal extensão a ponto de já não se conseguir vislumbrar líderes capazes de resgatá-la da miséria moral que dela fez prisioneira. Conforta-nos saber que as instituições funcionam. As Forças Armadas, a Polícia Federal, o Ministério Público, o Poder Judiciário, desempenham as responsabilidades que lhes atribuem a Constituição e a lei. Ameaçada e com dezenas de cicatrizes e emendas, a Lei Superior permanece viva como garantia de punição dos corruptos e traidores.
A nação assemelha-se à aeronave cujas turbinas foram danificadas, com pouco combustível, em voo cego, da qual o piloto faz o possível para conduzir a aeroporto localizado em 2018, a fim de pousar, reabastecer e dar início a mais uma jornada de quatro anos, com outro comandante e renovada tripulação. Ao povo compete determinar o seu destino. Assim funcionam os regimes democráticos. Desde o momento em que o Brasil recuperou o direito às eleições diretas, as escolhas foram boas e más. Talvez mais más do que boas. No exercício da soberania que lhe confere a Constituição, o eleitorado nem sempre se saiu bem. A crise é fruto de deliberada ação, omissão ou corrupção, nunca produto do acaso.
Em 2018 o País terá nova chance.
A estrutura partidária é forte empecilho às boas escolhas. Espera-se, todavia, que a renovação dos quadros dirigentes seja feita para melhor.
Os escândalos do mensalão e do Lava-Jato trazem, como fato positivo, a relação de nomes que deverão ser rejeitados em futuras eleições. Para os implicados a pior das condenações consistirá na expulsão da vida pública pela força do voto. Vamos dar-lhes o que merecem.

Publicado no Correio Braziliense, 16/5/2017, OPINIÃO, 11.