A CIDADÃ CENTENÁRIA

Foi-se de retorno à verdadeira vida, ao reino do espírito, a cidadã capivariana e professora Virgínia Bastos de Mattos (1) neste mês de agosto.
Oro por ela e me alegro pela feliz passagem que fez nesta vida, como filha, esposa, professora e mãe, que viu retornar antes dela para a vida espiritual alguns dos filhos e o esposo, o professor Carlos Lopes de Mattos. Em diversas circunstâncias visitei-a e conversamos sobre a imortalidade da alma e sobre essa nova vida espiritual.
Tivemos Virgínia como colaboradora da Casa da Criança junto com outras professoras, como a Glaucy Quagliato (Tutu), Cidinha Vigoritto, Cecília Costa Novo, Lita Gerônimo e Rosinha Carravero, entre tantos que auxiliavam. Que tempo bom! Amparar as crianças que precisavam de um acolhimento, de alimentação, de orientação e educação.
Quando lançamos o livro de Rodrigues de Abreu, Casa Destelhada, também mantivemos contato com ela, e também nas publicações avulsas do livreto Noturnos, em datas comemorativas ao nascimento de Benedito.
Fui também o editor do livro Vida, paixão e poesia do Rodrigues de Abreu, de autoria do professor Carlos Lopes de Mattos. Conversamos sobre a imortalidade da alma do poeta, que havia ressurgido em poemas psicografados pelo médium mineiro Chico Xavier, inclusive naquele Vi-te, Senhor, onde fala que não foi o sucesso, a juventude e sim a dor que o fez encontrar-se com o Senhor.
Dona Virgínia, na infância, sendo seu pai delegado de polícia, juiz de direito e desembargador do Tribunal de Justiça, junto com sua família morou em diversas cidades do interior paulista, radicando posteriormente na capital, onde estudou até o Curso Normal, obtendo o diploma de professora em 1936. Ingressou na Faculdade de São Bento, onde se formou em Filosofia em 1939.
Casou-se com o professor Carlos em 1942, que era formado em Filosofia na Bélgica. Somente em julho de 1949 veio residir em Capivari. Tiveram oito filhos: Maria Luiza, Daniel, Carlos Alberto, Maria Virgínia, Antonio Carlos, João Augusto, Maria Augusta e Otávio.
Residindo numa casa (muito agradável e arborizada) desde 1953, na Rua General Osório, a professora continuou com sua participação bastante ativa nos movimentos que buscam a melhoria da vida cultural de Capivari e que preservam a história local, sendo uma das integrantes do Movimento Capivari Solidário.
Por seu trabalho em prol da cidade foi agraciada, em 2006, com o Título de Doutora Honoris Causa pela Faculdade Cenecista de Capivari, a FACECAP.
Em julho de 2010, ela foi agraciada com o título de cidadã capivariana, por sua participação ativa nos movimentos que buscaram a melhoria da vida cultural, social e religiosa de Capivari.
Neste mesmo ano de 2010, no mês de setembro, na edição do dia 4 deste Correio de Capivari, a professora escrevia um artigo primoroso falando sobre a Bíblia. De visão acima de nosso tempo, pela sua experiência e sabedoria, escrevia na coluna Momento Católico:
“Por muitos anos, quase um tabu, os católicos foram afastados das leituras bíblicas. É certo que a Palavra de Deus sempre foi proclamada na Igreja; mas é bom também lembrar que a língua eclesiástica era o latim, as missas não eram participativas, o celebrante dava as costas para o povo, ouvinte distraído e desanimado por nada entender.
“Tudo mecânico: ajoelha, levanta, senta. Quanta gente desinteressada que só o medo do inferno fazia permanecer na igreja, com seus vultos misteriosos. Graças a Deus o Concílio Vaticano II trouxe a libertação. Foi um jorro de luz e de fé! Uma aurora na Igreja.”
A morte não existe, é apenas o corpo que retorna à natureza – o espírito elevado de nossa professora Virgínia retorna ao seio dos pais, esposo e filhos que partiram no trem anterior. Desejo ao espírito da professora feliz retorno, feliz passagem para a dimensão Maior da Vida. Que Deus retribua todo o bem que fez por nós capivarianos. Especialmente a mim e à Editora EME, que sempre contou com sua contribuição como pessoa e professora. E muita luz e paz aos seus familiares que aqui continuam, já com saudades da educadora.

(1) Virgínia Lopes de Mattos (15/10/1915 – 13/08/2017).