Desassoreamento do rio: solução para as enchentes ou impacto ambiental?

Na última semana, assim como em todos os verões, Capivari e região enfrentaram diversos problemas com relação às fortes chuvas e ao aumento do nível do Rio Capivari e seus afluentes. Essa situação não é inédita e quase todos os anos, isso se repete.
Capivari registrou a maior cheia da história, com o nível do rio alcançando 4,34 metros, quando a altura regular de sua calha é abaixo dos dois metros, sendo esta a altura limite para seu transbordamento.
Mais de cinco mil pessoas sofreram com os impactos desta cheia e mais de mil casas foram atingidas. Não bastassem todos estes prejuízos e danos, com a descida do nível do rio, ficam os entulhos e todos os resíduos gerados pela destruição.
Mas, o que muito se ouve falar no período pós enchente é sobre o desassoreamento do Rio Capivari. Seria esta a solução para o fim das enchentes? A resposta deve ser dada após a análise de diversos fatores e estudos, que já tem sido realizados há anos, pelo Consórcio das Bacias dos rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí (PCJ).
Existe um estudo de macrodrenagem do Rio Capivari, que contempla toda a sua bacia, desde a cabeceira até seu deságue no Tietê, que prevê ações regionais para evitar todos os prejuízos que assolam os municípios há décadas.
A questão do desassoreamento, especificamente no trecho do Rio que passa pela cidade de Capivari não é uma boa opção para resolver a questão das cheias. A maior parte das águas que destroem a cidade, são as águas chamadas “rio acima”, ou seja, são as águas que vem das chuvas de Campinas e Monte Mor e chegam até Capivari.
O sistema de desassoreamento, dependendo dos equipamentos a serem utilizados para este serviço, pode causar ainda mais danos, pois podem destruir a vegetação das margens do rio, movimentar o solo desestabilizando as encostas e potencializando ainda mais o carregamento de partículas e de terra para o leito, além do que, o nível do rio não seria alterado por essa ação, devido a variação do relevo da região e das características do próprio leito em toda a sua extensão.
Para acabar com as enchentes em Capivari, é necessário pensar de forma regional e buscar ações que efetivem a manutenção adequada. Antes de se falar em desassoreamento, é essencial que se pense nas ações locais de forma racional e que sejam eficientes.
A princípio, deve-se estabelecer ações e políticas públicas, para regulamentar a preservação e conservação das margens do Rio Capivari nas áreas de riso. Isto sim, deve ser pensado localmente. É necessário realizar a desocupação das áreas de risco e posteriormente realizar ações de reflorestamento para a recuperação das matas ciliares.
A vegetação é uma grande aliada para a saúde dos rios e para que a água das chuvas não causem os impactos que tem sido observados. Recuperar estas áreas é uma ação fundamental, se de fato, existe a vontade de acabar com o problema das cheias.
Além do reflorestamento das margens dos rios, a arborização urbana deve ter o seu devido valor, aumentando assim, a drenagem das águas de chuva em toda a cidade e minimizando o escoamento superficial das águas e aumentando sua infiltração no solo, antes que estas águas cheguem ao seu curso final, que são os rios.
Também, deve-se pensar em soluções relacionadas à sistemas de drenagem e reservação das águas das chuvas. Ações como estas, além de solucionar o aumento do nível do rio, também trarão soluções sustentáveis aos períodos de estiagem.
O foco agora é resgatar a dignidade e o conforto das pessoas atingidas e ajudar na recuperação dos seus bens. Mas, está na hora de parar de falar em desassoreamento do rio como a única solução para esta problemática tão frequente e começar a desenvolver ações locais mais efetivas, dando prioridade à gestão ambiental na nossa cidade e na região.