E aconteceu que o mendigo morreu, e foi levado pelos anjos para o seio de Abraão; e morreu também o rico, e foi sepultado.
Jesus (Lucas 16:22)
Nesta parábola do mendigo e do mau rico, ambos faleceram e voltaram à vida espiritual, ninguém ficou dormindo ou aguardando um juízo final. Jesus, nesta ocasião, se dirigia aos fariseus, que admiravam muito Abraão, e diziam que eram filhos dele, mas eram orgulhosos e vaidosos do conhecimento e desprestigiavam as outras pessoas (E os fariseus, que eram avarentos, ouviam todas estas coisas, e zombavam dele – Lucas 16:14).
Morrer é um fato muito natural e necessário na Terra, pois somos seres espirituais estagiando neste plano. O próprio Jesus (João 12:24) é quem diz: “Em verdade, em verdade vos digo que, se o grão de trigo, caindo na terra, não morrer, fica ele só; mas se morrer, dá muito fruto”. Dessa forma, a morte do corpo é uma espécie de renascimento para o espírito.
Nesta vida fazemos um treinamento para a morte todos os dias, quando dormimos. Com o sono do corpo nos libertamos parcialmente da matéria física e podemos entrar em contato com os espíritos. Segundo Allan Kardec: “Quando se dorme, fica-se momentaneamente no estado em que se ficará, de forma definitiva, após a morte. Os espíritos que, na ocasião de sua morte, logo se desprendem da matéria, tiveram sonos inteligentes. Esses espíritos, quando dormem, vão ao encontro da sociedade de seres que lhes são superiores: viajam, conversam e se instruem com eles, e inclusive trabalham em obras que encontrarão prontas ao morrer”.
Na parábola, porém, os dois personagens, com a morte, foram para lugares diferentes. Encararam situações diversas, pelas maneiras que viveram na Terra.
Essa é a lei de causa e efeito, como diz Jesus: “A cada um segundo suas obras” (Mateus 16:27).
Vemos neste relato que ao homem não basta apenas não praticar o mal para agradar a Deus e garantir sua posição no futuro aqui ou no Além. É preciso algo mais, fazer o bem no limite de suas possibilidades e de suas forças. Pois, segundo os espíritos superiores: “cada um responderá por todo o mal que haja resultado de não haver praticado o bem”.
Alguém poderá dizer: na história, o homem rico só desfrutou dos bens materiais e não fez o mal; sim, mas tinha condições de fazer o bem e não fez, o que gerou sua situação de sofrimento no outro lado da vida.
A questão não é de riqueza e de pobreza/doença, mas de amor (que é caridade) e fé (que é ação no bem).
Entretanto, há pessoas que, por sua situação de dificuldade e doença, não podem fazer o bem. Materialmente, não, mas podem fazê-lo de forma intelectual, profissional e espiritualmente e, com seu comportamento, ser um exemplo de vida para outros. Só os egoístas não encontram a oportunidade de servir ao próximo, nas ocasiões em que o auxílio seja necessário.
O mendigo é descrito como alguém que tem fé e, sem murmurar, segue sua peregrinação na Terra. Não blasfema, não maldiz seu destino, não se revolta com a vida ou com Deus, nem pratica crime. Tem como amigos os cachorros que o acompanham no sofrimento e velam por ele.
Segundo o apóstolo São Paulo, a fé é necessária, mas a caridade é mais importante, quando ensina: “ainda que tivesse toda a fé possível, a ponto de transportar montanhas, se não tivesse caridade, eu nada seria”.
Jesus, o modelo e guia da humanidade, recomendou humildade e caridade, cujo exemplo ele próprio nos deu. E o que se contrapõe a esses sentimentos são o orgulho e o egoísmo, que Jesus incansavelmente combateu. Ele fez mais que recomendar a prática do amor ao semelhante; ele a coloca, nitidamente e, em termos explícitos, como a condição absoluta da felicidade futura, quando diz que toda a Lei se resume em: “amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo”.