RODRIGUES DE ABREU VOLTOU A ESCREVER

Poeta na Terra, poeta no Além. Quem diria que um jovem paulista ainda desconhecido no Brasil, depois de apenas alguns anos voltasse a escrever do país dos mortos para o país dos vivos?
Sim, o poeta Benedito Rodrigues de Abreu (1) aparece no primeiro livro psicografado pelo médium Chico Xavier, lançado em 1932 (2). E não parou por aí, participando de outras coletâneas de poetas brasileiros recebidos através da mediunidade do mineiro.
Todas são páginas lindíssimas, mas aquela pela qual eu sou apaixonado é esta: “Vi-te, Senhor!”, porque identificamos o poeta e suas agruras, sonhos e fantasias juvenis, e a descoberta de que o Senhor o havia curado através da dor:

“Falaste-me com a Tua linguagem do Sermão da Montanha,
Multiplicaste o pão das minhas alegrias
E abriste-me o Céu, que a Terra fechara dentro de minhalma…”

“E entendi-Te, Senhor,
Nas Tuas maravilhas de beleza,
Quando Te vi na paz da Natureza
Curando-me com a Dor.”

Em 1927, quem sofria de tuberculose estava condenado à morte, dentro de pouco tempo. Era como o mal que assolou o mundo na década de 1980, com a AIDS: não havia recurso, era emagrecimento, enfraquecimento, dor, martírio e morte.
Havia o medo do mal desconhecido que assolava as famílias e os países…
E não foi diferente com Rodrigues de Abreu: a família de sua noiva, Aracy, obrigou-a a romper o noivado.
Em vida, Rodrigues de Abreu publicou três livros: “Noturnos” (1919), “A sala dos passos perdidos” (1924), “Casa destelhada” (1927).
Temos uma biografia completa do poeta pelo professor e doutor Carlos Lopes de Mattos, na obra “Vida, paixão e poesia de Rodrigues de Abreu” (3). Nela ficamos sabendo da admiração de vários expoentes da literatura pelas poesias de Rodrigues de Abreu, como Amadeu Amaral, Mário de Andrade, Manuel Bandeira, Paulo Setúbal, Plínio Salgado, chegando Menotti Del Picchia a declarar: ”Rodrigues de Abreu é um dos maiores poetas brasileiros… É o Cristo da nova geração”.


(1) Capivari-SP, 27/09/1897, e Bauru-SP, 24/11/1927.
(2) “Parnaso de além-túmulo”, FEB.
(3) Editora do Lar/ABC do Interior, atualmente Editora EME.