Espaço Corporativo – Os olhos e ouvidos da Alma. Você tem pensado nisto?

“Quando uma porta de felicidade fecha-se, outra se abre; mas muitas vezes, nós olhamos tão demoradamente para a porta fechada que não podemos ver aquela que se abriu diante de nós. É maravilhoso ter ouvidos e olhos na alma. Isto completa a glória de viver.” Helen Keller.
Partilho aqui o texto de uma pessoa especial que se ocupa em trazer as estórias do cotidiano e assim possibilita reflexões muito oportunas.
Aqueles que dispõem da visão perfeita, com certeza não podem avaliar a preciosidade que é ter noção de espaço, distâncias, cores – tudo o que os olhos oferecem todos os dias. Por isso, ouvir o depoimento de uma senhora cega, que mora sozinha, é oportuno. Durante todo o inverno, Sueli ficou dentro de casa a maior parte do tempo. Naquele dia de inicio de primavera, a friagem amenizou e ela sentiu o perfume forte das flores. Seus ouvidos escutaram o canto insistente de um passarinho do lado de fora da janela. É como se a pequena ave a estivesse convidando a sair de casa. Preparou-se, tomou a bengala e saiu. Voltou o rosto para o sol, deu-lhe um sorriso de boas-vindas, agradecida pelo seu calor e a promessa do verão. Caminhando tranquila pela rua sem saída, escutou a voz da vizinha a lhe perguntar se não desejava uma carona. – Não, respondeu educadamente Sueli. – As minhas pernas descansaram o inverno inteiro. As juntas estão precisando ser lubrificadas e um passeio a pé me fará bem. Ao chegar à esquina ela esperou como era seu costume, que alguém se aproximasse e permitisse que ela o acompanhasse, quando o sinal ficasse verde. Os segundos pareceram uma eternidade. E ninguém aparecia. Nenhuma oferta de ajuda. Ela podia ouvir muito bem o ruído nervoso dos carros passando com rapidez, como se tivessem que conduzir os seus ocupantes a algum lugar, muito, muito depressa.
Por um momento, Sueli se sentiu só, desprotegida. Resolveu cantarolar uma melodia. Do fundo da memória, recordou-se de uma canção de boas-vindas à primavera, que havia aprendido na escola quando era criança. De repente, ela ouviu uma voz masculina forte e bem modulada. – Você me parece um ser humano muito alegre. Posso ter o prazer de sua companhia para atravessar a rua?
Sueli fez que sim com a cabeça, sorriu e murmurou ao mesmo tempo um “sim”. Delicadamente, ele segurou o braço dela. Enquanto atravessavam devagar, conversaram sobre o tempo e como era bom, afinal, estar vivo num dia daqueles.
Como andavam no mesmo passo, era difícil se saber quem era o guia e quem era o guiado. Mal haviam chegado ao outro lado da rua, ouviram as buzinas impacientes dos automóveis. Devia ser a mudança de sinal. Sueli se voltou para o cavalheiro, abriu a boca para agradecer pela ajuda e pela companhia.
Antes que pudesse dizer uma palavra, ele já estava falando: – Não sei se você percebe como é gratificante encontrar uma pessoa tão bem disposta para acompanhar um cego como eu, na travessia de uma rua movimentada.
Reflitam com atenção e carinho, vale a pena! Saúde e Paz a todos! Fraterno abraço.